Durante décadas, o rio Cheonggyecheon, que corta o centro de Seul, foi ocultado sob concreto, canalizado e coberto por uma via expressa elevada.
Nos anos 1950, o local simbolizava o avanço urbano e o crescimento econômico da Coreia do Sul mas, com o tempo, tornou-se o retrato da desconexão entre cidade e natureza.
Em 2003, o então prefeito Lee Myung-bak propôs algo que parecia impensável: demolir 6 km de via expressa e restaurar o curso original do rio.
O projeto, concluído em 2005, se tornou um dos maiores marcos de requalificação urbana do século XXI, redefinindo o que significa desenvolvimento sustentável em uma metrópole.
Mais do que uma obra de engenharia, a restauração do Cheonggyecheon foi um ato de reconciliação entre cidade e ecossistema.
O rio voltou a fluir, as margens foram transformadas em parques lineares, e mais de 120 mil árvores e plantas foram introduzidas na área.
O ar ficou mais limpo, a temperatura da região caiu em média 3,6°C, e espécies de peixes, pássaros e insetos retornaram um verdadeiro renascimento natural em pleno coração urbano.

Mas o impacto não foi apenas ambiental.
O novo corredor revitalizou o comércio local, ampliou as áreas de convivência e devolveu às pessoas o direito de caminhar, descansar e se reconectar com o espaço público.
Hoje, mais de 60 mil visitantes passam diariamente pelo Cheonggyecheon, comprovando que o cuidado pode ser a força mais transformadora de uma cidade.
O Cheonggyecheon não é só um rio restaurado é uma lembrança de que o progresso e a natureza não precisam caminhar separados.
Para a GFR, o projeto de Seul representa um exemplo inspirador de como a criação e o cuidado se encontram no urbanismo de futuro.
Assim como no High Line, em Nova York, ou na cidade de 15 minutos, em Paris, o Cheonggyecheon mostra que reimaginar o espaço urbano é, antes de tudo, um gesto de empatia.
A filosofia que inspira esse tipo de transformação é a mesma que move a GFR: olhar para cada terreno, bairro ou cidade com respeito ao seu ritmo natural e às pessoas que ali vivem.
Porque restaurar o que é vivo seja um rio, uma paisagem ou uma relação com o entorno é também recriar o sentido de pertencimento.
Criar com propósito é devolver à cidade aquilo que ela tem de mais precioso: a vida que flui.
O Cheonggyecheon é mais do que um caso de sucesso em sustentabilidade urbana, é um lembrete poderoso de que a beleza está em reparar, restaurar e reconectar.
Quando o urbanismo é guiado pelo cuidado, cada cidade pode reencontrar sua própria alma.